Terminou o 2.º período. O final de mais um ano letivo está mais próximo do que parece...
Todos os anos as situações sobre as quais vou desabafar de seguida acontecem, todos os anos... mas este ano têm acontecido com particular intensidade, nem sei bem porquê... Só acaso, talvez...
Pois bem... sou licenciada em Professores do Ensino Básico, na variante Matemática e Ciências da Natureza. Estudei em Beja, na Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Beja. Instituição pública. Terminei esta formação em 2003. Desde aí já trabalhei em diversos projetos, já trabalhei com crianças de várias nacionalidades, já dei aulas em escolas privadas e públicas, já fui diretora de turma, já dei aulas a turmas de currículos alternativos, já tive muitos alunos com necessidades educativas especiais, enfim... um pouquinho de tudo!
Infelizmente, ou felizmente (ainda estou para descobrir), desde 2013 que não tenho colocação em nenhuma escola pública, por mais que concorra todos os anos, mas sobre isso todos nós já sabemos as razões...
A crise económica...
O aumento de alunos por turma...
Os sucessivos cortes na educação...
Etc...
Etc...
Etc...
Infelizmente, ou felizmente (ainda estou para descobrir), foi em 2013 que tornei real o meu plano B (que rapidamente passou a plano A). Abri um centro de explicações e dei continuidade a um trabalho que desenvolvia em casa, também desde 2003. Já o fazia há 10 anos, já tinha trabalhado noutros centros de apoio escolar e sentia-me segura e confortável com a minha decisão. Ainda me sinto. Poderia estar a fazer outra coisa qualquer, à semelhança de outros meus colegas que, tal como eu, também não conseguem obter colocação. Mas decidi arriscar, decidi investir em mim e no meu trabalho.
Não foi uma decisão fácil, foram muitas noites sem dormir, a pensar se estaria a fazer o melhor. No fundo sabia que sim, mas havia sempre aquela voz, a voz da dúvida.
Sempre trabalhei com TODOS os meus alunos, como trabalhei com os meus sobrinhos e como trabalho com o meu filho mais velho, já em idade escolar.
Sempre tratei e sempre tratarei TODOS os meus alunos de forma igual e justa, sem olhar a estatutos sociais, religiões ou outros fatores que muitas vezes nos separam na nossa sociedade... Sempre os tratei e sempre os tratarei como sobrinhos ou mesmo filhos... acreditem, algumas crianças precisam mais do meu carinho do que dos meus ensinamentos. Quem me conhece sabe que sou assim.
Sempre fui assim também com os meus colegas de escola, depois colegas de curso e finalmente colegas de profissão. É deveras intimidativo entrar pela primeira vez numa sala de professores onde não se conhece ninguém. Mas sempre respeitei todos, desde o colega que sabemos estar no topo da carreira até ao colega que ficou colocado no mesmo dia que nós e que está a sentir o mesmo que nós. Todos temos algo a aprender com o próximo, seja ele professor, auxiliar, aluno, encarregado de educação. Sempre respeitei todos, TODOS.
Ora bem... e perguntam vocês... mas para quê esta conversa toda...
Notei, desde sempre, mas neste ano em particular... alguma... nem sei que nome lhe dar... (os alunos diriam "azia"... lol) alguma... algum sentimento de repúdio, digamos assim, pelo papel do "explicador". Sim, o explicador, a explicadora que, caso seja alguém sensato, não é mais do que um professor licenciado (embora existam pessoas que, tendo outras habilitações que não lhe permitem dar aulas em escolas, também dão explicações, mas isso é outra conversa...). Existem professores nas salas de aula e existem professores nos centros de explicações, mas nestes últimos locais, somos rotulados de "explicadores". Olha uma profissão nova! Recuso que me chamem "explicadora" e quando um aluno o faz, EXPLICO (lol) que sou professora, que tenho um curso superior que me dá essa habilitação. Sim, porque por vezes, os alunos naturalmente chamam "professora, tenho aqui uma dúvida" e alguns deles julgam que se enganaram (tal como já me chamaram de "mãe", "tia", "avó"...) e pensam que é um "engano desses". EXPLICO novamente que pode chamar-me de "professora" porque é essa a minha profissão. Perguntam-me porque não estou a dar aulas e aí segue-se uma longa conversa que já tento resumir em 5 minutos... :)
Quando estava colocada, tinha "n" alunos que frequentavam, e bem, uma explicação. Porque a decisão de frequentar, ou não, um apoio escolar extra cabe aos encarregados de educação e aos alunos. Ponto. Nunca, numa aula minha, comentei o trabalho realizado na explicação, desde que o mesmo não interfira, obviamente, na minha planificação e no trabalho que pretendo desenvolver com os meus alunos. O mesmo acontece agora que estou "do outro lado", como professora no centro de explicações, centro-me nas dúvidas e nas dificuldades que os alunos trazem e não interfiro no trabalho que é realizado na escola, não avanço matéria nova. Esse é o trabalho do professor da escola. O meu, enquanto professora de apoio é mesmo esse, APOIAR. Apoio os meus alunos tal como apoio o meu filho, torno a dizer. Igual.
No entanto, muitos alunos desabafam comigo que o professor, ou a professora comentou algo do género "Pois, tens isso bem porque fizeste na explicação" ou "Não tens isso feito da maneira que eu quero, porque foi feito na explicação" e comentários semelhantes ou ainda mais depreciativos... Pois bem... e se esse aluno não andasse na explicação e tivesse feito esse trabalho com a mãe, com o pai, com a tia ou com a prima?... Se o aluno tem dificuldades, não pode tentar resolvê-las junto de outro professor ou junto de um familiar? Não serve o TPC para criar também uma ligação entre a escola e a família? Só que infelizmente, nos dias que correm, muitos pais têm dois ou mais empregos e não têm tempo para ajudar os filhos, ou simplesmente não se sentem capazes para o fazer, dada a complexidade das matérias atuais. Vamos agora julgar os "explicadores particulares" ou os "centro de explicação" por isso?... Não é justo. Até porque, caros colegas que hoje têm colocação... ninguém sabe o dia de amanhã, ninguém sabe quando será necessário ativar o Plano B... Ninguém sabe...
Sempre dei explicações e tomei a decisão de abrir o centro e trabalhar da forma que trabalho, porque AMO o que faço, não para ficar rica, como muito boa gente pensa. Para isso, teria outras alternativas e acreditem que dariam menos dor de cabeça!!!
Não agrado a todos, ninguém agrada a todos. Mantenho-me fiel à forma como trabalho, pois é desta forma que me sinto bem, é desta forma que sei que consigo ajudar os alunos, é desta forma que durmo tranquilamente todos as noites, com a consciência leve.
Tenho saudades de dar aulas, tenho saudades do cheiro da sala de aula, do bom companheirismo entre colegas, da boa relação que sempre mantive com os meus alunos, é verdade que tenho. Mas se o sistema não permite, que posso fazer?
Pois bem, faço algo semelhante, ou mesmo, IGUAL. A paixão está sempre lá. Infelizmente o sistema também faz com que, cada vez mais, os alunos tragam mais dúvidas, mais matéria para estudar, mais pesquisas para fazer, mais trabalhos para concretizar!
E quem sou eu no meio disto tudo? Sou uma mãe, uma tia, uma prima que, por acaso, é professora e dá imenso jeito para ajudar nos TPC e no estudo para as fichas de avaliação.
A classe dos professores sempre foi muito desunida. Todos sabemos isso. Mas não é preciso sermos assim, pois nunca sabemos de que "lado da cama" é que iremos acordar no dia seguinte.
Há lugar para todos.
Há uma oportunidade para todos.
Há um sol para todos.
Tenham um excelente fim de semana e uma Doce Páscoa!
S. S.
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